Apesar de só ter sido declarada como uma forma de dependência em 1988, o tabagismo é um comportamento complexo, influenciado por diversos fatores, ambientais, hábitos pessoais, condicionamentos psicossociais e pelas ações biológicas da nicotina que constitui a principal causa evitável de morbidade e morte prematura no mundo. Não sendo por isso de estranhar que seja o principal fator associado à diminuição da expectativa de vida entre ricos e pobres.
Entre os homens, o tabagismo é responsável por mais de metade do risco de morte prematura. Atualmente, 5 milhões de pessoas morrem no mundo em consequência das doenças causadas pelo cigarro. Tem-se observado, durante a última década a uma lenta redução da prevalência de tabagismo em homens e a um aumento em mulheres e adolescentes.
Atualmente, a comunidade cientifica sabe que existem diversas doenças que são causadas pelo tabagismo, incluindo vários tipos de cancro, doenças respiratórias, cardiovasculares, úlceras gástricas e duodenais, disfunção erétil, infertilidade, osteoporose, catarata, degeneração macular relacionada à idade e periodontite. Sendo também consensual sob o ponto de vista cientifico que mulheres que fumam durante a gravidez apresentam um risco significativamente maior de aborto espontâneo e de nascimento de bebés com baixo peso e que o tabagismo passivo pode agravar sintomas respiratórios e desencadear crise asmática e, a longo prazo, elevar um risco aumentado de cancro de pulmão, doenças respiratórias (especialmente asma), doenças cardíacas e acidente vascular cerebral.
Contudo, apesar das drásticas consequências do consumo de tabaco, este problema é muitas vezes negligênciado pelos profissionis de saúde pela incapacidade de identificar fumantes rápida e facilmente, e pela dificuladade em fornecer tratamentos adequados.
Deste modo, e antes de se pensar em tratar é fundamental saber identificar os sinais e sintomas desta forma dependência, tendo sempre bem presente que:
1) O consumo inicial irregular em geral não acarreta sintomas de abstinência, porém, com a continuidade do uso, a nicotina causa uma sensação de prazer. Os principais motivos que levam a esse uso continuado incluem tentativa de escape de sintomas de abstinência, mudanças no sistema nervoso central (SNC), desencadeando reforço positivo (ou seja, prazer com o uso), e a crença de que o consumo da droga produz outros efeitos como, por exemplo, relaxar.
2) Os fenómenos envolvidos na adição tabágica são complexos e envolvem vários neurotransmissores. A nicotina age principalmente em recetores anticolinérgicos, distribuídos em todo o SNC, fazendo com que a sua administração continuada tenda a elevar a densidade desses recetores em 300%. Algumas regiões envolvidas são: a área ventral tegumentar, os neurônios dopaminérgicos e suas conexões com o núcleo accumbens e o córtex pré-frontal. Nessas áreas, causa uma liberação de vários neurotransmissores, como dopamina, norepinefrina, acetilcolina, vasopressina, serotonina, betaendorfina, glutamato e GABA, que geram os efeitos compensatórios da nicotina.
Finalmente, é importante, que ao procurara diagnosticar um paciente dependente do tabaco, o clínico leve em consideração os critérios diagnósticos para Dependência Química do Manual Estatístico e Diagnóstico (DSM-IV) da Associação de Psiquiatria Americana (APA) que aplicam também ao tabagismo:
- Existência de esforços para manter o uso diário da substância (nicotina);
- Tolerância, definida por um dos dois aspeto a seguir: 1) uma necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância para adquirir o efeito desejado e 2) acentuada redução do efeito com o uso continuado da mesma quantidade de substância
- Abstinência: sintomas que surgem com a súbita interrupção ou acentuada redução do consumo de nicotina: irritabilidade, inquietude, depressão, agitação, insônia, ansiedade, fome, falta de concentração, alteração do humor, queda da frequência cardíaca, aumento do apetite e/ou do peso
- A substância é frequentemente consumida em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido - Existência de um desejo persistente ou esforços malsucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso da substância
- Os sintomas de abstinência produzem mal-estar clinicamente significativo, fazendo com que importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso da substância e o individuo evite contato social ou situações nas quais sabidamente não poderá fumar (viagens longas ou ambientes livres de fumo)
- O uso da substância continua, apesar da consciência de ter um problema físico (doenças cardíacas, pulmonares, câncer, etc.) ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pela substância.