O alcoolismo, também conhecido como dependência de álcool e, mais recentemente, como transtorno por uso de álcool grave, é uma doença crônica e progressiva e tem consequências clínicas e sociais muito sérias. Não sendo por isso de estranhar que é própria OMS que aponta o uso de álcool como sendo o terceiro maior fator de risco para morte prematura, incapacitação e perda de saúde no mundo, constituindo por isso, um problema de saúde pública que deve ser investigado por todos os profissionais da área da saúde.
Deste modo, para que o diagnóstico de situações graves de alcoolismo, que podem colocar em risco a vida do consumidor e de terceiros pelas consequências comportamentais que este pode originar, é fundamental que existam uma atenção redobrada aos sinais de dependência alcoólica, que de seguida enumeramos:
1. Existência de uma história de consumo em quantidade superior e por um período de tempo mais longo do que a própria pessoa pretendia, podendo esta demonstrar um desejo persistente ou esforços malsucedidos para diminuir ou controlar o uso de álcool;
2. O forte desejo ou impulso pelo consumo de álcool. é reconhecido pelo paciente.
3. O álcool passou a ocupar progressivamente um lugar importante na vida da pessoa em causa;
4. O indivíduo mostra evidências de tolerância ao álcool, necessitando de quantidades crescentes de bebida para atingir a intoxicação ou o efeito desejado ou, em alternativa, ocorre uma diminuição do efeito com a ingestão da mesma quantidade de álcool;
5. Verificam-se sintomas de abstinência física (ansiedade, tremuras, insónia, suores, náuseas, vómitos, agitação psicomotora, etc.);
6. Existe um prejuízo da vida da pessoa relacionado com o consumo de álcool.
Para além do que referimos anteriormente é fundamental levar-se em consideração que:
1) o risco de dependência de álcool é de aproximadamente 10% para os homens e 5% para as mulheres e que
2) quanto mais alta for a concentração de álcool no sangue, mais severas poderão ser as alterações da consciência e os sintomas de intoxicação alcoólica, podendo surgir frequentemente e de forma quase imediata, sintomas como: a) Humor instável; b) Falta de discernimento; c) Fala arrastada; d) Défice de atenção; e) Problemas de memória, incluindo-se “apagões” de memória; f)Falta de coordenação, etc.
Sendo igualmente importante, termos sempre bem presente que a longo prazo, o alcoolismo tem vários efeitos negativos sobre a saúde física e psíquica do consumidor, que na maioria das vezes causam prejuízos graves nos vários contextos em que a pessoa se move, sejam eles laboral, familiar ou social, e que estão relacionados com exclusão social, acidentes de trânsito, comportamentos agressivos, etc. Sendo bons exemplos de tal realidade:
1) Problemas Gastrointestinais (Úlcera, varizes esofágicas, gastrite, gordura no fígado, hepatite, pancreatite, cirrose;
2) Perturbações Neuromusculares (Cãibras, perda de força muscular, dormência, distúrbios de coordenação);
3) Problemáticas Cardiovasculares (Hipertensão, arritmias, aumento do risco de acidente vascular isquémico);
4) Transtornos do foro Sexual (Redução da libido, ejaculação precoce, disfunção erétil, infertilidade);
5) Perturbações Psicológicas / Psiquiátricas, das quais destacamos:
a) Depressões - o álcool tem um efeito depressor sobre o sistema nervoso central e aumenta o risco de perturbações de humor e de depressão, que se revelam pelos sintomas habituais, desinteresse, perda ou aumento de peso, perturbações do sono, fadiga, perda de energia ou agitação, pensamentos negativos e de culpabilização, diminuição da capacidade de pensamento ou concentração, e, nos casos mais severos, pensamentos suicidas);
b) Síndroma de Abstinência - ocorre quando, após um período de alcoolismo intensivo, há uma paragem no consumo ou uma redução abrupta e significativa das quantidades ingeridas. Pode revelar-se algumas horas depois ou surgir até quatro a cinco dias após esse momento e os sintomas são: taquicardia, tremores nas mãos, insónia, náuseas e vómitos, alucinações, inquietação, agitação e ansiedade. Nos casos mais graves, a situação de delirium tremens é acompanhada de febre, convulsões e confusão mental),
c) Demência - a memória é frequentemente afetada não só pela ação do álcool como pela má nutrição, que torna frequente nos alcoólicos a carência de vitamina B1, essencial para a manutenção da capacidade de armazenar novas memórias. “A degradação da memória, causada pelo consumo excessivo de álcool, pode perdurar e inclusive agravar-se ao longo dos anos”, alerta José Fernando Santos Almeida,
d) Psicose Induzida pelo álcool (consiste sobretudo em alucinações e ideias delirantes (ideias falsas que resistem a toda a argumentação lógica e ao teste da realidade) - Afeta 3% dos dependentes do álcool. “Há pessoas mais suscetíveis a sofrerem uma psicose do que outras e a durabilidade da psicose está dependente de inúmeros fatores (manutenção do consumo, vulnerabilidade, história prévia de psicose, concomitância de consumos de outras substâncias, etc.).