Carl Jung, muitos anos antes de se ter atingido o "estado de arte" dos saber atual, já ressaltava que a psicologia e, por consequência, os profissionais de saúde mental (onde se incluem psicólogos clínicos, psiquiatras e hipnoterapeutas) devem preparar-se para lidar com temas que envolvam a espiritualidade humana, afirmando que: "os conhecimentos espirituais que se exigem do médico não constam do currículo da faculdade, porque este não foi preparado para cuidar da alma humana, porque ela não é problema psiquiátrico ou fisiológico, e muito menos biológico. É um problema psicológico! A alma é um território em si, com leis que lhe são próprias. A essência da alma não pode ser derivada de princípios de outros campos da ciência, caso contrário violar-se-ia a natureza particular do psiquismo"
Segundo Jung, a espiritualidade é um tema da psicologia, que não tem o propósito de doutrinar ou de assumir o papel de detentora de verdades definitivas.
Neste sentido, tendo em consideração que é própria Organização Mundial da Saúde (OMS) que integra a espiritualidade como das quatro dimensões que definem a integralidade do ser humano, definindo "Saúde" como um estado completo de bem-estar que engloba componentes físicas, psicológicas, sociais e espirituais, e não apenas a ausência de doença física, a hipnose clínica não pode negligenciar a espiritualidade humana, porque se tal acontecesse, estaria contrariando a totalidade do ser humano.
Como tal, não restam duvidas que cabe à psicologia e à hipnoterapia, considerar a espiritualidade como algo que é inerente à natureza humana e não rotulá-la como devaneio ou patologia, sendo importante termos em consideração que qualquer tema tratado que envolva a psicologia e espiritualidade deve passar sempre pelo crivo do bom senso de cada um, tendo sempre bem presente que a espiritualidade não caberá num processo de racionalização porque caso contrário transformar-se-ia em algo que é cativo do ego.
Efetivamente, apesar da ciência moderna fazer da razão consciente aquela que determinava a sua conduta. a conceção de inconsciente (que constitui a matéria prima por excelência da Hipnose), faz com que exista a necessidade de se promver um movimento de transformação dos seus constructos basilares, que conduz, inevitávelmente, a uma nova revolução do saber, que acenta em "não mais negligenciar o espírito do homem", porque deixamos de estar perante um assunto de caracter religioso para termos em mãos mais uma dimensão que pode ser avaliada, mensurada e tratada clinicamente, sob patrocínio da mais conceituada organização de saúde do mundo: a OMS.
Seja como for, é fundamental que todos os conhecimentos concernentes à espiritualidade sejam tratados como considerações e não como decretos da verdade, porque a espiritualidade é algo que faz parte do mundo interno de cada ser humano e a verdade dentro de cada um, deve ser construída por aquele que habita e vive neste mundo interno, ou seja, pelo próprio, cabendo ao profissional de saúde mental a função de considerar tudo que é expresso por seu cliente como material subjetivo para seu trabalho, independente das suas crença e/ou convicções religiosas ou ideológicas. Tudo isto sem ter medo de "caminhar na e pela ambiguidade, porque como refere Carl Gustav Jung, no Livro Vermelho: “[…] Mas a ambiguidade é o caminho da vida. […] Você diz: o Deus cristão é inequívoco, ele é amor. Mas o que é mais ambíguo que o amor? O amor é o caminho da vida se você tem uma esquerda e uma direita. Nada é mais fácil que brincar de ambiguidade e nada é mais difícil que viver a ambiguidade.”
Como tal, atualmente, não restam dúvidas que a hipnose, constitui o método de intervenção terapêutico privilegiado para gerir eficiênciaentemente as questões relacionadas com a espiritualidade e com a existencialidade, porque para além de lidar diretamente com o inconsciente dos pacientes (tendo acesso a informações e intercorrências mentais que não são acessíveis de outra forma), promove o acesso a uma série de vivências subjetivas (incluindo os conteúdos e as resignificações da atividade onírica), facilitando bastante o desenvolvimento da comunicação simbólica que está inerente aos assuntos do foro espiritual / existencial.
Ainda a este nível, é importante fazermos uma referencia específica aos problemas existenciais propriamente ditos, pela interligação habitual que os mesmos têm com as questões espirituais. Deste modo. quando falamos de Problema Existêncial ou de Transtorno existencial, estamos, pura e simplesmente, a referirmo-nos a um momento no qual o ser humano questiona os fundamentos de sua vida (se esta vida possui algum sentido, propósito, ou valor) que pode, tanto resultar, como ser confundida com, ou ocorrer junto com:
- Depressão;
- Privação de sono;
- Isolamento prolongado;
- Insatisfação com a própria vida;
- Grande trauma psicológico;
- Sentimento de estar sozinho e isolado no mundo;
- Uma nova compreensão ou apreciação da própria existência;
- Crença de que a vida não possui um propósito ou sentido;
- Procura pelo sentido da vida;
- Perda do sentido da realidade, ou de como o mundo é;
- Experiência extremamente agradável ou dolorosa;
- Perceber que o Universo é mais complexo, misterioso, maior e além do conhecimento humano...
Sendo muito importante percebermos que uma crise existencial é quase sempre provocada por um evento importante na vida de uma pessoa (trauma psicológico, casamento, divórcio, grande perda, a morte de um ente querido, experiência entre a vida e a morte, diagnóstico de uma doença crónica e/ou potencialmente mortal, surgimento de um novo parceiro amoroso, uso de droga psicoativa, etc) que origina a realização de uma introspeção e/ou análise criticada da própria existência, revelando, deste modo, a repressão psicológica de tal consciência.
Finalmente é importante referirmos que para alguns autores, a Crise existencial é considerada como uma consequência direta da Depressão que pode ser resolvida, de forma muito simplista através da:
- Ancoragem (consiste na fixação de pontos dentro ou a construção de barreiras ao redor do espírito combatente líquido da consciência). Tendo sempre em consideração que o mecanismo de ancoragem fornece aos indivíduos um valor ou um ideal que lhes permite focar a sua atenção em uma forma consistente.
- Isolamento (consiste num "desligamento totalmente arbitrário de todos os pensamentos e sentimentos destrutivos e perturbadores da consciência).
- Distração (Ocorre quando "alguém limita a atenção para as fronteiras críticas apaixonando-as constantemente com impressões)
- Distração (foca toda a energia de alguém numa tarefa ou ideia para prevenir que a mente se feche em si mesma) e
- Sublimação (consiste na reorientação de energia de pontos negativos, para os positivos).
Contudo, apesar da aparente simplicidade processual, a utilização simplificada das estratégias anteriormente citadas só poderá decorrer com sucesso se existir um apoio especializado que saiba canalizar devidamente as energias psicológicas resultantes, podendo existir a necessidade de se se implementarem estratégias psicoterapêuticas muito mais estruturadas para dar resposta a situações e/ou a estruturas mentais e espirituais mais complexas. Existindo sempre a condição "sine qua non" de se personalizar as intervenções às características do paciente.